Sou de um tempo de poetas mortos,
de cantores que recitavam poemas das coisas feitas pelo coração, de filmes onde
o idiota era a melhor pessoa da história, e detalhe, seu nome era impronunciável:
Forrest Gump. Sou de um tempo que videogame era passatempo e bolas e quadras
uma vida, de um tempo de séries de TV sobre homens de 6 milhões de dólares, que
andavam em câmera lenta. Sou do tempo de poucas igrejas, católicas ou
protestantes, e de quase inexistência de ateus. Do tempo dos grandes filósofos,
alguns do futebol outros da literatura...Ah, saudades do Telê Santana e Jorge
Amado. Sou do tempo que Guerra nas Estrelas era apenas um filme e Regina Duarte
era a eterna namoradinha do Brasil. Do tempo da família, do Pai e da Mãe e também
dos avós. Do tempo da sessão da tarde e de Jerry Lewis, do Ultra-seven e da
Formiga Atômica. Mas infelizmente perdi no passado, meu "tempo", escondido
por programas de auditório sensacionalistas e novelas tendenciosas. Não vejo mais novelas,
não encontro mais Roques Santeiros, nem mesmo Sinhozinhos, apenas nomes
americanos que não identifico e situações que não vivo. Não escuto mais rádios,
não escuto mais disco nem CD's, perdi meus Pink Floyds e meus discos de vinis.
Perdi o trem das onze e a garoazinha paulista não cai mais, derrama dilúvios ou
secas. Não assisto mais Charlton Heston, nem os Dez Mandamentos, pois me
assusta a incompreensão social e ideológica do novo Êxodo cinematográfico
perante a sociedade, que não se rebela e nem assume responsabilidades. Sou um
homem ultrapassado, como Nietzsche, Dante, Beethoven ou Kurosawa. Estou morto
numa sociedade que outrora idolatrou a sociedade dos poetas mortos. Poetas? O
quê é isso? Como Vargas morro, mas não para entrar para a história, mas para
sair dela, pois quero distância de qualquer sociedade que não saiba quem foi
Cassius Clay ou Johnny Rivers.
(Professor Samir Lahoud leciona
História e Filosofia, e ainda acredita na humanidade...Ainda).
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